O
percurso que as crianças vivem, para poder ler e escrever
Quando acompanhamos, cuidadosamente, a
evolução da escrita espontânea das crianças, vemos que elas elaboram hipóteses. Sim, é preciso deixar
as crianças escreverem como sabem (e não só copiarem palavras escritas corretamente
pela professora), para podermos detectar em que nível de compreensão de nosso
sistema alfabético o menino ou a menina se encontram. Conforme a teoria da
psicogênese da escrita, elaborada por Ferreiro e Teberosky, os aprendizes
passam por quatro períodos nos quais têm diferentes hipóteses ou explicações
para como a escrita alfabética funciona: pré-silábico, silábico,
silábico-alfabético e alfabético.
No período
pré-silábico, a criança ainda não entende que o que a escrita registra é a
sequência de “pedaços sonoros” das palavras. Num momento muito inicial, a
criança, ao distinguir desenho de escrita, começa a produzir rabiscos, bolinhas
e garatujas que ainda não são letras. À medida que vai observando as palavras
ao seu redor (e aprendendo a reproduzir seu nome próprio ou outras palavras),
ela passa a usar letras, mas sem estabelecer relação entre elas e as partes
orais da palavra que quer escrever. Pode, inclusive, apresentar o que alguns
estudiosos chamaram de realismo nominal, que a leva a pensar que coisas grandes
(casa, carro) seriam escritas com muitas letras, ao passo que coisas pequenas
(formiguinha, por exemplo) seriam escritas com poucas letras. Nessa longa etapa
pré-silábica, sem que os adultos lhe ensinem, a criança cria duas hipóteses
absolutamente originais:
·
a hipótese de quantidade mínima, segundo a qual é preciso ter no mínimo 3 (ou 2)
letras para que algo possa ser lido;
·
a hipótese
de variedade, ao descobrir que, para escrever palavras diferentes, é
preciso variar a quantidade e a ordem das letras que usa, assim como o próprio
repertório de letras que coloca no papel. De modo parecido, a criança passa a
conceber que, no interior de uma palavra, as letras têm que variar. Se pedirmos
à criança que leia o que acabou de escrever, apontando com o dedo, nessa etapa,
ela geralmente não busca fazer relações entre as partes escritas (letras, agrupamentos
de letras) e as partes orais das palavras em foco.
No período silábico, ocorre uma revolução. A criança descobre que o que coloca
no papel tem a ver com as partes orais que pronuncia, ao falar as palavras.
Mas, nessa etapa, ela acha que as letras substituem as sílabas que pronuncia.
Num momento de transição inicial, a criança ainda não planeja, cuidadosamente,
quantas e quais letras vai colocar para cada palavra, mas demonstra que está
começando a compreender que a escrita nota a pauta sonora das palavras, porque,
ao ler o que acabou de escrever, busca fazer coincidir as sílabas orais que
pronuncia com as letras que colocou no papel, de modo a não deixar que sobrem
letras (no que escreveu). As escritas silábicas estritas, que aparecem depois,
seguem uma regra exigente: uma letra para cada sílaba pronunciada. Tais
escritas podem ser de dois tipos:
·
silábicas quantitativas ou “sem valor sonoro”, nas quais a criança tende a
colocar,
·
de forma rigorosa, uma letra para cada sílaba
pronunciada, mas, na maior parte das vezes, usa letras que não correspondem a
segmentos das sílabas orais da palavra escrita. silábicas qualitativas ou “com valor sonoro”, nas quais a criança se preocupa
em colocar não só uma letra para cada sílaba da palavra que está escrevendo,
mas também letras que correspondem a sons contidos nas sílabas orais daquela
palavra.
No período silábico-alfabético, um novo e enorme salto qualitativo ocorre e a
criança começa a entender que o que a escrita nota ou registra no papel tem a
ver com os pedaços sonoros as palavras, mas que é preciso “observar os
sonzinhos no interior das sílabas”. Alguns estudiosos consideram que tal etapa
de transição não constitui em si um novo nível ou nova hipótese, mas uma clara fase
“de transição”. Ao notar uma palavra, ora a criança coloca duas ou mais letras
para escrever determinada sílaba, ora volta a pensar conforme a hipótese silábica
e põe apenas uma letra para uma sílaba inteira.
Finalmente, no período alfabético, as crianças escrevem com
muitos erros ortográficos, mas já seguindo o princípio de que a escrita nota,
de modo exaustivo, a pauta sonora das palavras, colocando letras para cada um
dos “sonzinhos” que aparecem em cada sílaba.
Se tivéssemos que indicar um único
material (livro) sobre níveis de escrita alfabética, seria o Caderno do Ano 01,
Unidade 03, Miolo, do Livro “Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa”,
sendo assim para baixar este excelente material e aprender muito sobre a
consolidação do sistema de escrita alfabética, acesse o link: http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/Formacao/Ano_1_Unidade_3_MIOLO.pdf